Até ontem ficava indignada quando alguém dizia que nós brasileiros não falamos português e sim brasileiro. O fato do uso da língua ser diferente, em aspectos bem marcantes da gramática inclusive, não a divide em duas.
Continuo pensando assim, mas ontem à tarde tivemos uma conversa inflamada entre colegas brasileiros e portugueses a respeito da apropriação de palavras estrangeiras. Um papo chato e inconclusivo para ambos os lados. O assunto em si tem pouca importância para mim, nem sequer tenho uma opinião formada sobre a incorporação de novas palavras. A discussão, entretanto, me fez refletir sobre aspectos mais globais da língua.
A língua tem uma grande importância dentro do âmbito econômico em geral e de forma cíclica. O inglês passou a ser estudado e falado em praticamente todo o mundo a partir do boom dos países de fala inglesa, principalmente dos EUA. Hoje, é ele próprio uma ferramenta muito importante.
O Brasil não precisa insistir em uma língua diferente como forma de afirmação política, cultural e territorial, como é o caso do País Basco ou da região da Catalunha, por exemplo. Mas, tão pouco, precisa do aval português para manter a soberania da língua no país e assim facilitar o seu crescimento econômico. O Brasil é extremamente visado e poderoso por ter uma grande massa de consumo e também pela sua força na exportação de produtos agrícolas e industrializados. Devido a isso e também ao diálogo internacional positivo que nossos líderes vêm mantendo com países de perfil político diferentes e antagônicos, como Venezuela, Estados Unidos e Cuba, por exemplo, Portugal se torna quase um detalhe na vida comercial do nosso país.
Talvez eu esteja exagerando, mas o que eu quero dizer é que, com certeza, seria bem mais importante para Portugal que para o Brasil qualquer tipo de vínculo ou acordo que ajudasse a alavancar os negócios, ainda que de maneira secundária.
A questão é que existe em nós – de ambas as terrinhas – uma mentalidade com mais de 500 anos de história. Os portugueses ainda se sente os colonizadores, os donos da língua e da verdade, e os brasileiros não conseguem cortar o cordão umbilical. Eu continuo falando e escrevendo português, mas eles insistem em dizer que nossa forma de expressão é feia e incorreta. Se falar português dá a eles autoridade sobre o nosso uso da língua, então, ok, eu falo brasileiro!